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Primeiros indígenas se formam este ano na UFSCar Sorocaba

Primeiros indígenas se formam este ano na UFSCar Sorocaba: reportagem foi vinculada pelo Jornal Cruzeiro do Sul no dia 07/07/2016.
Primeiros indígenas se formam este ano na UFSCar Sorocaba

Créditos da Imagem - Aldo V. Silva

Reportagem de Daniela Jacinto - daniela.jacinto@jcruzeiro.com.br e acessada pelo endereço http://www.jornalcruzeiro.com.br/materia/713135/primeiros-indigenas-se-formam-este-ano-na-ufscar-sorocaba, reproduzida aqui na íntegra:

O estilo do corte de cabelo, as pulseiras feitas de cordões e o pedaço de madeira em formato cilíndrico, fincado na orelha, mostram o quanto José Robri Umnhate preserva a identidade e as tradições de seu povo. É um xavante. O brinco, de acordo com essa cultura, é recebido em um rito de passagem, quando a pessoa já está preparada. Esse adorno representa um indutor de sonhos e funciona como uma antena, que capta os pensamentos dos ancestrais. É uma forte conexão com a natureza e o universo. Sendo assim, em parte por vontade própria e outra por intuição vinda dos antepassados, há cinco anos Robri resolveu pegar um ônibus e partir para o que seria o seu maior desafio. Mais difícil que caçar, que ensinar os mais jovens a serem guerreiros e passar por rituais. Viajou do Mato Grosso para São Paulo durante 24 horas e veio parar em Sorocaba, onde tinha um destino certo: a universidade. Hoje com 33 anos, Robri é um dos quatro indígenas que serão os primeiros a se formar na UFSCar Sorocaba. Todos vieram com um único objetivo: buscar conhecimento para fortalecer a sua cultura e assim lutar pela igualdade de direitos.
 
Robri conta que deixou a aldeia pela primeira vez em sua vida. Veio morar longe dos pais e da esposa, e seguir uma rotina sem os costumes que vivencia desde pequeno, para conhecer um outro lado, não apenas o dos estudos, necessários para implementar projetos em sua aldeia, como também os estranhos hábitos de uma civilização que ainda destrói a sua. "Mas a gente percebe que tem diferença entre as pessoas, tem gente que é muito boa", diz.
 
Munido de conhecimento acadêmico, Robri volta na semana que vem para a sua aldeia, para lecionar e colocar em prática o seu Trabalho de Conclusão de Curso: produzir um livro didático na língua materna xavante. "A ideia é alfabetizar na cultura indígena e transmitir a sabedoria dos ancestrais, pois as escolas recebem muita influência do ocidente", comenta. "Temos poucos livros indígenas pois os missionários e os professores ensinam sem embasamento na nossa cultura", diz.
 
Robri sabe que essa influência ainda continuará e por isso pretende estabelecer um diálogo entre as culturas indígena e "do homem branco". "Tenho de trabalhar sem abandonar os conhecimentos tradicionais, então esse diálogo é importante dentro da minha formação".
 
Os outros formandos também têm objetivos de implementar projetos em suas respectivas aldeias: Jeika Kalapalo, do povo Kalapalo, que mora no Parque Indígena do Xingu, e se forma em Administração; Gedeão Tewaté, xavante, em Geografia, e Emerson Chaves, do povo Baré, que mora em aldeia no Amazonas, e se forma em Pedagogia.

Falta material didático específico

Os indígenas são 0,47% da população brasileira, 817.963 habitantes, dos quais 502.783 vivem na zona rural e 315.180 em áreas urbanas, de acordo com o Censo Demográfico do IBGE. Pertencem a cerca de 305 etnias e falam 274 línguas, mas conforme os últimos dados do Censo Escolar de 2015, do Ministério da Educação (MEC), 46,5% das escolas indígenas não tem material didático específico para o seu grupo étnico.
 
De acordo com o que os dados apontam, muitos indígenas estão indo para a escola e assistindo aulas em outro idioma, não estão conhecendo a própria história e sim a de outro povo e ainda recebem exemplos estranhos à realidade em que vivem, como livros que trazem, para facilitar a lição, elefantes e girafas, animais completamente desconhecidos na Amazônia, por exemplo.
 
Doutor em linguística, Joaquim Mana Hunikuin, que nasceu na aldeia Praia do Carapanã, no Acre, trabalha hoje em Rio Branco, como técnico da Secretaria de Educação do Estado. Conforme ele diz, os povos falantes que querem produzir o seu material didático precisam ter conhecimento técnico científico para analisar a própria língua e ensinar na escola, pois do material que vem de fora, se aprende a língua portuguesa. (Com informações da Agência Brasil)

Edital de seleção para 2017 já está disponível

A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) publicou o edital da seleção para ingresso de estudantes indígenas em 2017, nos seus cursos de graduação presenciais. Os candidatos têm até o dia 9 de setembro para enviar a documentação completa, pelos Correios, contendo a ficha de inscrição, a declaração de etnia e de vínculo com comunidade indígena e o questionário socioeducacional devidamente preenchidos. Pelo segundo ano consecutivo, as provas serão aplicadas nas capitais Cuiabá, Manaus, Recife e São Paulo.
 
Ao todo são ofertadas 64 vagas, sendo uma para cada opção de curso, distribuídos entre os campus de São Carlos, Araras, Sorocaba e Lagoa do Sino. Essa seleção específica é realizada pela Universidade desde o ano de 2008. Estiveram inscritos no processo seletivo deste ano 480 candidatos, o que representou um crescimento expressivo em relação às seleções anteriores. Em 2015 foram 237 inscritos, com provas aplicadas somente em São Carlos. Mais informações podem ser consultadas no edital, disponível no site da UFSCar, em www.ufscar.br, pelo telefone (16) 3351-8152 ou no site www.ingresso.ufscar.br.